A ESCRAVATURA MODERNA
Uma das coisas que me custa mais a compreender no Portugal de hoje, militante empenhado que fui para que existissem em Portugal uma sociedade onde os direitos dos trabalhadores fossem reconhecidos, quer no que diz respeito à remuneração digna do trabalho, quer nos tempos de descanso e lazer é a ESCRAVATURA consentida que se instalou na nossa sociedade, onde os horários de trabalho apenas existem para as horas de entrada, onde se trabalha aos fins-de-semana e feriados, mesmo em actividades onde isso não se justifica, ficando sem tempo para a família e para o lazer, onde o trabalho parece ser um fim e não um meio.
Uma das virtudes do trabalho é o que, tendo-o, ele pode proporcionar exactamente no que diz respeito preenchimento das necessidades básicas (habitação, saúde, educação, etc) mas também ao lazer e ao prazer e de que serve até ganhar muito se depois não se tem tempo para o gastar?
Por outro lado, mesmo para satisfazer as necessidades básicas, o trabalho tem que ter uma certa estabilidade e a precariedade a que assistimos, não permite a que se possa constituir família ter uma casa e ter filhos etc, etc.
Por fim, ainda assistimos a que, quando alguém luta para, pelo menos manter o que tem, como acontece com os trabalhadores da Auto Europa, ainda seja criticado até pelos outros trabalhadores.
Como foi possível deixarmo-nos chegar a este ponto?