EU, PECADOR, ME CONFESSO!
Esta coisa dos incêndios sempre me tem feito pensar muito porque é que as coisas hoje em dia são assim, e depois da tragédia de Pedrógão fez-me pensar ainda mais.
De facto, antigamente, as coisas eram diferentes porquê? Em primeiro lugar, se calhar porque havia menos floresta, depois porque havia mais pessoas e pessoas com outro espírito, isto é as pessoas eram os primeiros bombeiros, muitas vezes os únicos.
E hoje é precisamente no problema da falta de pessoas no campo que me quero focar.
Não tenho dúvidas que a minha geração foi, sem dúvida a iniciadora do grande êxodo dos campos para o litoral e para a emigração!
E porquê? Porque na aldeia só existia trabalho na agricultura e, mesmo esse, não era para todo o ano (alguma industrialização apenas existia ainda na cintura industrial de Lisboa).
A emigração teve a ver além deste factor com o surgimento da guerra colonial e, aos que procuravam melhor vida, juntaram-se aqueles que dela queriam fugir.
Antes do 25 de Abril, a vida na terra para os pobres era uma autêntica miséria, principalmente no Alentejo onde predominava o latifúndio, começava-se a trabalhar cedo, na minha geração mal se acabava a escola , mas na geração dos meus pais muitos nem a chegaram a completar e começaram a trabalhar com sete e oito anos, sendo a alimentação a única remuneração a que se tinha direito.
Tudo isto para dizer que, ao contrário do que muitas vezes se quer fazer crer a fuga do interior para o litoral não começou depois do 25 de Abril, mas muito antes e, eventualmente, por o mesmo não ter acontecido muito mais cedo.
Quando partimos a ideia de muitos de nós era um dia “voltar à terra” e comprar uma casa onde pudéssemos passar uma velhice descansada.
Acontece que depois vieram os filhos que, mesmo na cidade, não arranjavam um emprego que lhes permitisse ter a vida que nós tivemos (graças ao 25 de Abril) e para os poder acompanhar e ajudar nós fomos ficando...ficando e depois vieram os netos e a maioria de nós, mesmo os que na terra compraram a casa sonhada, acabaram por ir ficando.
Para se compreender o fenómeno da desertificação do interior é preciso, portanto, ir muito mais longe que analisar o que se passou antes do 25 de Abril quer com os governo fascista quer com os anteriores que nada fizeram para desenvolver o país.
É certo que depois do 25 de Abril se foram fechando serviços mas isso aconteceu porque deixaram de existir pessoas para acorreram aos mesmos.
Hoje pensa-se que, recriando-os se atrairão de novo as pessoas mas eu penso que só o contrário fará com que aconteça, isto é, só quando houver pessoas é que os serviços voltarão e, quanto a isso eu estou muito pessimista, pois enquanto nós viemos à procura do emprego onde o havia na altura hoje prefere-se ficar mesmo onde ele não existe.